Age of the Fish

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A colecção Age of the fish | Era dos Peixes baseia-se na complexa simbologia do elemento peixes, em que a sua era começa no ano 1 e termina no ano de 2160. Pretende-se assim refletir sobre a importância de um recomeço na indústria da moda e de um retorno a valores fundamentais, como a valorização dos recursos e da mão-de-obra qualificada. Contudo, há uma determinante consciência do presente e das oportunidades geradas pelas novas tecnologias e conhecimento desenvolvido.

 

A simbologia dos peixes é bastante complexa, tendo associações tanto com a religião Hindu, Budista, Cristã, como com diferentes povos da antiguidade (Lewis, 2003, p. 524). O peixe enquanto símbolo do alimento que surge das profundezas da água atravessa diferentes culturas como representante da Grande Mãe e do mar, de onde toda a vida nasce. Para os povos antigos, o peixe assumiu tanto os valores positivos como negativos. Por um lado era considerado símbolo das águas da vida e da fecundidade, tornando-se símbolo de um deus criador e dador de vida. Por outro lado, era considerado símbolo das águas da morte, pois pode habitar as águas profundas e estas tinham essa simbologia. Esta característica fazia do peixe um animal misterioso. Em muitas civilizações, a fecundidade masculina e feminina estava associada ao peixe. Encontramos na mitologia Grega diversas personagens associadas ao elemento do peixe, tais como a primeira divindade do mar, a Titânide Tétis que representava o poder e a fecundidade feminina do mar, ou o filho da deusa fenícia Astargates que se chamava Ichtýs (palavra grega para peixe) e tinha mesmo a forma de um peixe, vindo-se a tornar o chamado deus-peixe da Babilónia. Na época de Júlio César, à deusa romana Vénus – deusa da maternidade e considerada a mãe do povo romano – era costume homenageá-la comendo peixe à sexta-feira, costume este que posteriormente foi cristianizado como a abstinência de carne.

 

Nas sociedades ocidentais, o peixe é um símbolo muito associado ao antigo cristianismo porque Jesus Cristo é retratado nas profecias bíblicas como um peixe. Os crentes auto-intitulavam-se “filhos do celestial Ichthus” e este tornou-se um símbolo secreto da fé cristã no século três AC. A água do baptismo está associada a esta mesma analogia.

 

Na astrologia, peixes é a 12ª e última casa do Zoodiaco. Representa a água, a mutabilidade, o oceano. O signo peixes é representado por dois peixes que nadam em sentido oposto porque é o signo que apresenta uma maior dualidade.

 

Freud reconhece que o interesse dos povos da antiguidade na descoberta dos sonhos e a hipótese de uma herança simbólica cultural se reflecte também na simbologia dos sonhos. Os peixes, tal como outros animais e repteis como a serpente, são interpretados como um símbolo genital e sexual; sonhar com peixes está associado aos desejos sexuais. Nos sonhos, por vezes, o peixe é um símbolo da criança não nascida, pois antes de nascer, vivemos na água como um peixe. Ele traz em si o simbolismo de renovação e renascimento, além de simbolizar os conteúdos autónomos do inconsciente.

 

A REC deseja assim que o bem estar humano compreenda uma nova era, onde existem consensos básicos de respeito e justiça social, ambiental e económica. Procura-se o equilíbrio entre funcionalidade e estética, desenvolvendo peças detentoras de uma identidade real e de um espírito construtivo. O slogan implícito na nossa sociedade “deite fora e compre novo” não corresponde ao avanço tecnológico que vivemos. A tecnologia actualmente disponível permite fabricar produtos com elevada longevidade em condições economicamente aceitáveis. Como Papanek  defende “the design response must be positive and unifying. Design must be the bridge between human needs, culture and ecology” (Papanek, 1995, p. 29).

Neste âmbito, a reciclagem aparece como uma solução possível para transformar produtos que fecharam um ciclo de vida em novos produtos com novas vidas (Siegle, 2006). O desafio é bastante interessante a nível criativo e possui inúmeras vantagens, desde a redução de desperdícios à própria redução da produção de matérias-primas e sua extracção. A questão fulcral reside no balanço dos gastos de energia e de recursos, entre a recuperação de materiais e produção de raiz. “As a concept, recycling has it all. If you´re a philosophical kind of consumer, for example, you´ll know that “new” produts aren´t really new” (Siegle, 2006, p.11).

 

Torna-se emergente discutir a importância dos recursos, do design na sociedade e, por conseguinte, da reciclagem não só como ferramenta para a redução de desperdícios e resíduos mas também como forma de inovação na interpretação dos materiais e das matérias-primas. Compreende-se, contudo, que a actividade de reciclagem não resolve o problema da nossa sociedade de consumo nem chega à sua raiz – a crucial hierarquia dos três Rs: reduzir, reciclar e reutilizar. O recurso a conceitos que apenas servem uma lógica de expansão de mercado, é uma das causas para o contínuo crescimento do consumo e de uma verdadeira inversão na política dos 3Rs, diminui-se o tempo de vida útil dos produtos promovendo a sua substituição precoce e simultaneamente apresenta-se a reciclagem como a forma mais amigável de recuperar o défice ambiental gerado pela onda consumista. Os benefícios da reciclagem só podem ter efeitos práticos se ao mesmo tempo se travar a actual tendência de diminuição da vida útil dos produtos. Em relação à sigla dos 3Rs, só existem políticas concretas, planos e incentivos para a área da reciclagem. Para a implementação do princípio da redução e para o da reutilização pouco mais se tem feito do que uma campanha moral. Contudo, as campanhas de reciclagem têm tido um papel pedagógico importante atraindo a atenção das populações para o assunto.

 

A sustentabilidade não propõe assim uma meta mas um processo contínuo de aprendizagem e adaptação. Torna-se, um tema crucial de importância crítica para os designers e para a sociedade como um todo. O conhecimento e a investigação científica podem inspirar a acção e a mudança de mentalidades. O vestuário que usamos pode reflectir as mudanças que queremos ver.

 

 

 

PAPANEK, Victor (1995). The Green Imperative: Ecology and Ethics in Design and Arquitecture. London: Thames and Hudson.

SIEGLE, Lucy (2006). Recycle: The Essencial Guide. London: Black Dog Publishing.